Descolonização da Terapia
- Juliana LC
- 7 de abr.
- 2 min de leitura

A psicologia, como campo do saber e prática terapêutica, tem raízes profundas na tradição europeia. A maior parte de seus fundamentos, métodos e autores clássicos provém de contextos ocidentais, brancos e de classe média. No entanto, a crescente crítica à colonização epistêmica e cultural tem impulsionado movimentos que propõem a descolonização da terapia, buscando integrar outras formas de conhecer, cuidar e curar.
Descolonizar a terapia é, antes de tudo, reconhecer que o sofrimento psíquico não pode ser entendido fora de seu contexto histórico, político e cultural. Isso significa romper com a ideia de um sujeito universal e de um modelo terapêutico aplicável a todas as realidades. A diversidade de vivências, cosmovisões e modos de ser precisa ser valorizada — especialmente aquelas que historicamente foram marginalizadas ou silenciadas.
Saberes indígenas, africanos, orientais, latinos e populares carregam formas profundas de cuidado coletivo, conexão com o corpo, com o território, com a ancestralidade e com a espiritualidade. Ao abrir espaço para esses saberes dentro das práticas terapêuticas, ampliamos o olhar sobre saúde mental e reconhecemos que o processo de cura pode se dar por muitos caminhos — não apenas pelas vias da fala e da racionalização.
A descolonização da terapia também questiona as estruturas de poder que moldam quem tem acesso ao cuidado, quem pode ser terapeuta e que tipo de sofrimento é legitimado. Ela propõe formações mais inclusivas e políticas públicas mais sensíveis às desigualdades sociais e raciais. Trata-se de transformar a prática terapêutica num espaço mais ético, plural e enraizado na realidade das pessoas.
Este é um movimento em construção, que exige escuta, descentralização e disposição para desconstruir verdades estabelecidas. Mais do que um novo método, é uma postura ética e política frente à vida e ao outro. Uma terapia descolonizada é aquela que reconhece a potência da diversidade e se coloca a serviço da libertação e do cuidado integral.
Escrito por Juliana Camargo



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